Segurança com Abelhas Africanizadas – Apis mellifera Linnaeus

Nota Técnica – Epagri

Santa Catarina foi destaque em reportagem exibida no domingo, 10/04/2022, sobre o aumento de casos de ataques de abelhas a pessoas no Brasil e mostrou casos registrados em Blumenau, Presidente Getúlio e Criciúma. Devido a grande repercussão, alguns esclarecimentos serão listados a seguir.

As abelhas são insetos da ordem Hymenoptera, assim como as vespas e as formigas. Existem mais de 20 mil espécies de abelhas descritas no mundo e no Brasil aproximadamente 2 mil espécies. A espécie mais conhecida é a abelha africanizada (Apis mellifera) que é responsável pela produção de praticamente todo o mel que consumimos e por sua vez também é responsável pelos casos de acidentes com abelhas. Porém há diversas outras espécies de abelhas, tais como os meliponíneos (abelhas sem ferrão), mamangavas, abelhas solitárias entre outras.

Embora o maior impacto econômico da apicultura Catarinense esteja no ganho de produtividade da maçã, pera, ameixa e outras culturas pelo trabalho de polinização feito pelas abelhas, a apicultura de Santa Catarina vem se destacando pela produção e qualidade do mel. Criar abelhas também se destina à produção de própolis, pólen, geleia real e apitoxina. Esses produtos servem de matéria-prima para as indústrias farmacêuticas, alimentícias e cosméticas.

Além da importante fonte de renda a milhares de famílias catarinenses, as abelhas também prestam serviço para a manutenção da biodiversidade, visto que as abelhas são responsáveis pela polinização de aproximadamente 73% das plantas no mundo.

As abelhas não são agressivas, são defensivas. O ataque de abelhas nada mais é do que a defesa da colmeia (família) posta em prática. A intensidade com que as abelhas defendem sua colmeia depende de fatores genéticos e principalmente do estágio de desenvolvimento da colônia. Quanto mais “forte” a colônia melhor é seu sistema de defesa.

O maior número de casos de acidentes tem ocorrido em áreas urbanas com abelhas alojadas em sofás velhos, caixas de papelão, embaixo de pedras, ocos de árvores, forro de casas, bueiros, galpões, etc, muito próximo a áreas povoadas ou de trânsito de pessoas e máquinas como foram os casos mostrados na reportagem.

Estas colônias de abelhas poderão estar alojadas a bastante tempo sem ter causado problemas, porém principalmente no verão quando as colmeias estão populosas, um ataque maciço das abelhas poderá ser desencadeado a qualquer momento devido a alguma perturbação como: vibração do solo por máquinas que estejam passando pela rua, barulhos, utilização da máquina de cortar grama, máquina de lavar roupa, animais e principalmente o contato com a colônia durante reformas, limpeza de terrenos, remoção de entulhos, terraplanagem, etc.

Em colmeias de apicultores dificilmente irão ocorrer acidentes, pois os apicultores profissionais seguem protocolos de segurança, respeitam as distâncias seguras e também utilizam os equipamentos de proteção individual recomendados.

As abelhas só atacam para defender sua colmeia, ou seja, o local de sua moradia, família instalada, portanto quando as abelhas estarão visitando flores, refrigerantes ou outra fonte de açúcar, não haverá um ataque das abelhas, no máximo poderá ocorrer uma picada caso a pessoa comprimir a abelha. Se possível, esconda ou remova a fonte de substâncias açucaradas e isso evitará que a abelha recrute novas companheiras para a fonte e alimento.

Uma situação bastante comum, principalmente na primavera e verão, é o aparecimento repentino de um amontoado de abelhas, parecendo uma bola, expostas, em troncos de árvores, beirados de casas, varandas, etc. Neste caso são famílias que estão de passagem em busca de um novo local para se instalar. Nestes casos, em que as abelhas não estão instaladas, dificilmente ocorrerá um ataque maciço das abelhas, porém é recomendado não se aproximar, fazer ruídos ou mexer nas abelhas. Dentro de um prazo que pode variar de poucas horas a no máximo uma semana, elas sairão do local seguindo seu destino. Caso esteja em local que precise de acesso, ou presença de crianças no local, ou muito próximo a animais presos é necessário contatar um profissional para remoção do enxame.

Fatores biológicos de defesa das abelhas

Na colmeia, a defesa das abelhas se organiza da seguinte forma:

  • As abelhas vigilantes patrulham a entrada da colmeia e arredores, numa área correspondente ao seu território. Esta área pode variar de tamanho, conforme a população da colmeia. Quando não há perturbação esta distância não

passa de algumas dezenas de metros, porém quando por algum motivo já estão em estado de alerta, o raio de patrulhamento e ação aumenta bastante.

  • Sempre que as abelhas vigilantes identificam perigo nas proximidades, elas liberam um feromônio que é produzido na película externa da bolsa de veneno. Erguendo o abdome expondo o ferrão, batem suas asas fazendo a dispersão do cheiro que alerta as demais abelhas para organizarem a defesa da colmeia.
  • Na ação de defesa, normalmente são as abelhas campeiras que interceptam os invasores. Por este motivo, recomenda-se manipular as colmeias nos horários em que as campeiras estão trabalhando a campo, evitando dias chuvosos ou nublados.
  • O ferrão da abelha é um prolongamento do abdômen, é composto de uma bolsa de veneno, um conjunto de músculos e duas lancetas farpadas.
  • Quando o ferrão é aplicado no invasor o ferrão fica preso a vítima, a bolsa de veneno fica junto com o ferrão e o cheiro do alarme continua sendo liberado, atraindo outras abelhas para o ataque, podendo ocasionar acidente com centenas de picadas.
  • A abelha morre após ferroar, visto que o ferrão é um prolongamento do abdômen, que se rompe no momento em que a abelha abandona a vítima, deixando o ferrão.
  • O conjunto de músculos do ferrão serve para acionar as lancetas do ferrão em movimento cadenciado de penetração. Normalmente o ferrão continua penetrando na vítima e liberando o veneno por algum tempo. Por isso é importante extraí-lo imediatamente, e disfarçar seu cheiro, aplicando uma baforada de fumaça sobre o local, evitando, assim, sua penetração e também futuras picadas.

Efeitos do veneno das abelhas e sintomas nas vítimas

O veneno das abelhas é produzido pelas operárias a partir de três dias de idade, em glândulas especiais situadas junto à bolsa de veneno, e tem dois efeitos específicos: o alérgico e o tóxico.

Efeito alérgico

Depende da sensibilidade da vítima aos componentes do veneno. Uma pessoa não alérgica que recebe uma ou poucas ferroadas, normalmente, apresenta reação alérgica localizada, com dor imediata, mancha circular avermelhada em torno do ferrão introduzido na pele, acompanhada de inchaço, calor e coceira, que podem durar por várias horas. Alguns casos podem apresentar náuseas e vômitos de curta duração e pouca importância.

Pessoas alérgicas a apitoxina, dependendo do grau de sensibilidade, apesar de uma ou poucas ferroadas, pode apresentar reação alérgica severa. Os sintomas se apresentam através de coceira generalizada e inchaço por todo o corpo (inclusive lábios e pálpebras), mal-estar geral, tonturas, aparecimento de manchas avermelhadas, acompanhadas de coceira em diversas partes do corpo, arroxeamento dos lábios, falta de ar, podendo ocorrer parada respiratória e choque anafilático, e principalmente fechamento da glote causando dificuldades para respirar. Nesse caso, há risco de morte para o paciente. Aconselha-se procurar assistência médica o mais rápido possível.

Efeito tóxico

O efeito tóxico é proporcional à quantidade de picadas sobre a vítima, mesmo quando esta não é alérgica. Começa a manifestar- se a partir de algumas dezenas de picadas, tornando-se grave a partir de centenas.

Para vítimas que recebem centenas de picadas, além do efeito alérgico intenso nos locais das picadas, haverá a manifestação severa do efeito tóxico. Pode haver a destruição dos glóbulos vermelhos, hemorragias, comprometimento do fígado, rins, coração e sistema nervoso central, podendo apresentar os mais variados sintomas: perda de consciência, insuficiência renal e parada respiratória. Aconselha-se procurar um médico sem perda de tempo.

Normalmente, em média, 500 ferroadas podem matar uma pessoa de 65kg.

O que fazer em caso de ataque de abelhas africanizadas?

Após desencadear o ataque as abelhas atacam indiscriminadamente a todos que estiverem nas redondezas.

Em abelhas africanizadas o ataque maciço ocorre de 10 – 20 segundos após as primeiras abelhas efetuarem o ataque, por esse motivo se recomenda afastar-se da colmeia o mais rápido possível.

Os ataques com consequências graves sempre ocorrem quando não há possibilidade da vítima se afastar rapidamente por fatores como, terreno que dificulta o deslocamento, pessoas idosas, pessoas operando maquinários, animais presos, etc.

  • Ao ver alguém sendo atacado por abelhas, sugira que corra o mais rápido possível e socorra-o quando estiver protegido com uma coberta ou algo parecido, ou a uma distância segura, onde já não se observe abelhas sobrevoando;
  • A vítima deve se afastar o mais rápido possível do local onde está tendo o ataque de abelhas, de preferência em locais onde tenham árvores e arbustos ou outros obstáculos para as abelhas e o ideal é correr em zigue-zague.
  • Tentar se abrigar em local fechado (casa, comércio, veículo…), porém deve-se ter muito cuidado ao se abrigar em algum local, pois as abelhas são insetos pequenos e passam facilmente por pequenas aberturas ou frestas.
  • Em caso de ajudar outra pessoa, proteja-se adequadamente para que não venha a ser outra vítima no momento de ajudar o acidentado, primeiro proteger a si, para depois poder ajudar o outro, do contrário ficarão os dois em situação difícil;
  • A fumaça pode ajudar numa emergência, desestruturando o ataque das abelhas, caso tenha possibilidade de correr até um local onde tenha fumaça ou fazer fumaça com um equipamento adequado.
  • Não é recomendado se jogar em riachos, açudes, lagos ou rios, pois além do ataque das abelhas pode-se ter o risco de afogamento ou outros danos à integridade física da vítima.
  • Se a vítima receber grande número de picadas chame o serviço de emergência médica para que a pessoa atacada receba os devidos cuidados;
  • Independentemente do número de ferroadas, se estiver se sentindo mal (queda de pressão, falta de ar, aparecimento de manchas avermelhadas pelo corpo, ou outro sintoma), procure atendimento médico imediato. Você pode ser alérgico e precisará de atendimento rápido.

Primeiros socorros

Quando já estiver em segurança, fora do raio de ação das abelhas, proceder conforme descrito abaixo:

  • Retirar imediatamente os ferrões para evitar que todo o veneno seja injetado na vítima. Para isso, não utilize o dedo ou pinça, a fim de não comprimir a bolsa de veneno. Recomenda-se retirar os ferrões com o auxílio de uma lâmina de canivete ou faca, raspando cuidadosamente rente à pele;
  • Lavar abundantemente os locais atingidos com água corrente, sem esfregar a pele para não espalhar mais rapidamente o veneno;
  • Aplicar bolsas de gelo no local das picadas para diminuir o inchaço.
  • Aplicar no local das ferroadas, sem esfregar, uma pomada com antialérgico e analgésico para amenizar as dores.
  • Nos casos de pessoas alérgicas e nos pacientes que não estão passando bem, administrar um comprimido de antialérgico, em casos mais severos antialérgico injetável.

Importante:

  • Quando o número de ferroadas for grande ou se tratar de pessoa alérgica ao veneno das abelhas, mesmo prestados os primeiros socorros, deve-se encaminhar imediatamente a pessoa para cuidados médicos.

Ao instalar o apiário o apicultor deve observar as seguintes distâncias de habitações, estradas, animais presos e locais de circulação de pessoas:

  • Apiários com até 10 colmeias: 150 metros quando existir uma barreira com florestas ou outras e 300 metros em locais sem barreiras.
  • Apiários com mais de 10 colmeias: 200 metros quando existir barreira e 300 metros em locais sem barreiras.

Obs. As distâncias acima mencionadas foram definidas por convenção entre técnicos e representantes de apicultores em reunião realizada no período de 28 a 30 de março de 2015.

Algumas recomendações em casos de enxames de abelhas instalados em locais que podem ocorrer acidentes

  • Se há abelhas na residência ou local próximo, mas não atacaram ninguém, é recomendável contatar um apicultor para a retirada da colmeia (não mexer com abelhas se não for apicultor ou não tiver conhecimento);
  • Enxames localizados em locais altos como em telhados dificilmente desencadeiam ataques, pois elas não se estressam com barulho de cortador de grama ou outros e o mais importante, ninguém mexe com elas acidentalmente como por exemplo em terrenos baldios onde se faz roçadas ou limpeza com máquinas;
  • Se não tiver conhecimento técnico sobre apicultura, nem equipamento de proteção apropriado, não tente remover enxames ou tirar mel, principalmente no ambiente urbano, pois isso pode causar um ataque na vizinhança
  • Se houver risco de ataque das abelhas, deve-se acionar o Corpo de Bombeiros ou a Defesa Civil;
  • As abelhas atacam quando se sentem ameaçadas, portanto, muito cuidado ao avistar um enxame de abelhas. Ruídos, tremores, vibrações, movimentos rápidos chamam a atenção das abelhas;
  • Oriente a todos a não se aproximarem ou provocarem as abelhas jogando pedras e de outra forma;
  • Enxames localizados em áreas urbanas normalmente atacam as pessoas sempre que forem importunados, principalmente em épocas do ano em que a colônia está populosa
  • Nunca subestimar uma colônia de abelhas, especialmente as colmeias populosas.

Em caso de emergência, contate imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) ou o Corpo de Bombeiros (193).

Fonte: Epagri

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